Brasão de Armas de Rio Claro

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         O Brasão de Armas de Rio Claro, um dos símbolos desse município, foi elaborado por Zulmiro Ferraz de Campos (1870-1960) e desenhado por Carlos Hadler (1885-1945). Posteriormente, foi oficializado pelo Ato nº 13, em 24 de fevereiro de 1932.        

        Os desenhos figurativos que compõem o brasão de armas de Rio Claro são baseados nas regras da heráldica e simbolizam, as características históricas, políticas e sócioculturais da comunidade rio-clarense e do município.

        O brasão possui dois elementos: o escudo e o ornamento exterior.

        No escudo, que é a parte principal do brasão, estão inseridos os símbolos: campo de goles, canto dextro do chefe, leão dormente e barrete frígio. 

        Por ornamentação exterior, entende-se tudo quanto cerca o escudo: os suportes representados pelas folhas de indaiá, a divisa Quieta non movere e a coroa mural de prata.

   Descrição:
  • Timbre: coroa mural de prata; coroa em forma de muro que compõe o ornamento superior.   
  • Suporte: dois ramos de indaiá[1], ao natural, compondo os ornamentos laterais.    
  • Divisa em fitão de goles: frase adotada no brasão e inscrita com letras de ouro: Quieta non movere, que compõe o ornamento inferior.
  • Campo de goles: escudo moderno de cor vermelha.
  • Cantão dextro do chefe: parte nobre do escudo, em campo de ouro, localizado no canto direito[2] da parte superior e nobre do escudo.
    Representação do ornamento exterior:
  • Coroa mural de prata: representa a cidade; uma cidade nobre e leal.
  • As folhas de indaiá: simbolizam as glórias e os triunfos da cidade e dos seus filhos, nas artes, na paz e na guerra.
  • A divisa Quieta non movere [3]: significa: “não importune quem está tranquilo; não mova quem está quieto; cuidado, deixem este povo em paz, não o exasperem!”.
    Representação do escudo:
  • Campo de goles: representa os ardis das lutas vitoriosas e o patriotismo do povo.  
  • Campo de ouro: simboliza a riqueza, o poder, a sabedoria, o caráter e a liberalidade do povo.
  • Leão[4] dormente de ouro: simboliza o povo rio-clarense que adormece à sombra da liberdade.
  • Barrete frígio de goles: simboliza a liberdade, a República sempre sonhada e desejada pelos antigos republicanos.
     Desenho original: 

         Mesmo tendo sofrido transformações, desde a sua criação (ver desenho abaixo), o significado das figuras que compõem o escudo e os ornamentos do brasão ficou preservado.  

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        Glossário:
  • Brasão de armas: representa um conjunto de figuras, ornamentos e elementos que compõem os escudos das cidades, dos Estados e das famílias nobres.
  • Goles é a cor vermelha que, nos brasões, simboliza valor e coragem. 
  • Divisa: frase adotada no brasão (que expressa) para expressar a idéia principal.
  • Exasperar: irritar, enfurecer.
  • Heráldica é a arte e ciência do brasão, das suas regras, composição, descrição e interpretação.  
  • Indaiá: nome comum de várias palmeiras.

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Leitura complementar

A figura de um leão dormente

       Os desenhos figurativos que compõem os brasões são baseados nas regras da heráldica e existe um rigor na representação das figuras que aparecem nos escudos, que podem ser figuras humanas, de animais, de objetos, de anjos e até de monstros.

        Entre todos os animais, o leão é o que aparece com mais freqüência nos brasões das famílias nobres, Estados ou países e sua presença simboliza: vigília, domínio, força, soberania, coragem e nobreza.

        Os desenhos e as figuras presentes no brasão de armas de Rio Claro simbolizam as características histórico-culturais da comunidade rio-clarense, segundo a visão dos autores.

        Desta forma, os autores utilizaram a figura de um “leão dormente de ouro” para representar a tranquilidade e a liberdade que vivenciava a população de Rio Claro. O "leão dormente de ouro" representa: “o povo rio-clarense que adormece à sombra da liberdade”.

         Conheça algumas figuras de leão heráldico: 

    

         

          O que significa barrete frígio?  

                                                                              barrete frígio, revolução francesa, república

        Barrete frígio era um gorro de tecido adotado na Revolução Francesa, como símbolo da liberdade e da luta pelo regime republicano. Era vermelho, tendo ao centro um pequeno distintivo circular (botão) com as  cores francesas (branco, azul e vermelho). 

        Na Grécia e Roma antiga, ele foi utilizado por ex-escravos indicando serem alforriados e livres.

 

Barrete frígio simbolizando o ideal republicano

            Durante o governo monárquico do Brasil, determinadas regiões do país vivenciaram transformações decorrentes do surgimento das cidades, da classe média urbana, da imigração, do crescimento do setor cafeeiro e da decadência das tradicionais oligarquias agrárias.  Essa situação ampliava a insatisfação de setores da sociedade que passaram a reivindicar reformas sociais e políticas. Nesse processo, surgem os movimentos abolicionista e republicano.

            Em Rio Claro, o apoio à luta política para instituir o Governo republicano no Brasil se manifestava por determinados segmentos da sociedade e ganhou expressão com a organização do grêmio político denominado Partido Republicano Rio-clarense, depois Partido Republicano Histórico, que, em 1872, venceu as eleições contra o Visconde do Rio Claro.

            O historiador José Ferraz, ao fazer referências do Partido Republicano Rio-clarense, descreveu: “O pensamento republicano aqui se refletia ao ponto de dizer-se, em público, em alocuções incandescentes que o Brasil só seria grande se a Monarquia fosse abolida. (...) O desespero republicano invadia a todos. Explodiam-se as discussões e as conversões se conheciam. No horizonte, para todos, se desenhava, em contornos indecisos, a idéia maravilhosa: República!”[5]

            Proclamada a República, em 15 de novembro de 1889, os republicanos rio-clarenses comemoram com suntuosos festejos. Os indivíduos que apoiavam a monarquia subdividiram-se: alguns acreditavam que o regime republicano poderia ser reversível, e os demais aderiram à nova situação. No cenário nacional, as ambiguidades políticas e a indiferença da maior parte da população ficaram consolidadas.  árvore da liberdade rio claro, praça da liberdade, rio claro,

           Em Rio Claro, o marco simbólico da comemoração foi o plantio da Árvore da Liberdade, em 15 de dezembro de 1889. Junto à comissão dos festejos, um cortejo de pessoas conduziu a árvore pela Avenida 01, em direção ao Largo da Matriz,[6] Nesse cortejo, desfilaram 21 (vinte e uma) meninas vestidas de branco, com fita vermelha amarrada na cintura e barrete frígio na cabeça. Elas conduziram estandartes coloridos, para representar os 20 (vinte) Estados e o Distrito Federal. No Largo da Matriz, houve discursos, o plantio da Árvore da Liberdade, fogos de artifícios, a queima de 21 tiros e uma banda de múcica tocando o Hino Francês Marselhesa.[7] Nessa ocasião, não existia o Hino Brasileiro da Proclamação da República. 

             Posteriormente, a cidade de Rio Claro foi palco do “quartel general” de um movimento armado comandado por Alfredo Ellis (1850-1925). Esse movimento respondia aos anseios dos chefes republicanos paulistas. Entre essas, o Batalhão Alfredo Ellis, como era conhecido, interviu contra Américo Brasiliense, Presidente do Estado de São Paulo, que, sob fortes pressões, acabou abandonando o cargo, em 13 de maio de 1891.

          Com base nesses fatos históricos, os autores utilizaram a figura do barrete frígio, no brasão de armas de Rio Claro, para representar os ideais republicanos dos rio-clarenses e o seu apoio para a implantação do Governo Republicano na política nacional. 

          Assim, a figura do barrete frígio neste brasão representa:“...a liberdade, a República sempre sonhada e  desejada pelos antigos republicanos da cidade”.

        A figura do barrete frígio está presente em muitos brasões de armas - por exemplo, no Brasão Provisório da República Brasileira e nos brasões dos municípios de São Simão (SP), Rio de Janeiro (RJ ) e Caçapava do Sul (RS): Em  todos esses brasões, ele simboliza a república. 

                                           

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1] As Folhas de Indaiá aparecem, no desenho original, ao natural, isto é, seguindo suas cores e formas originais, o que segundo as regras da heráldica lhe confere uma posição mais nobre. São representadas em número de dois, uma à sinistra (esquerda), e outra à dextra (direita). No passado, a presença das indaiás, palmeiras, era marcante na regiaõ que circunscreve a atual Rio Claro que, por isso, ficou conhecida como: “A Terra dos Indaiás”.

[2] Esquerda e direita correspondem, num escudo, à esquerda ou à direita de um cavaleiro que o esteja usando.

[3] A frase está escrita em latim (língua falada no antigo Lácio, região central da Itália, onde fica a cidade de Roma) e significa: “não agitar o que está quieto; não acordes o cão que dorme; deixa como está, para ver como fica”. Enquanto expressão jurídica, ela significa “não mexa no que está quieto”.

4] Entre todos os animais, o leão é o que aparece com mais freqüência nos brasões das famílias nobres, Estados ou países e sua presença simboliza: vigília, domínio, força, soberania, coragem e nobreza.

[5] Cf. Ferraz (1922). A ortografia em trechos transcritos foi atualizada.

[6] Após o evento do plantio da Árvore da Liberdadeo Lardo da Matriz recebeu a denominação de Praça da Liberdade.

[7] O Hino Marselhesa expressa a luta dos franceses na Revolução Francesa (1789-1799), que, conduzida pela burguesia e apoiada pela população pôs abaixo o poder aristocrático de Luiz XVI, defendendo os ideais de igualdade social, o poder representativo e os direitos do cidadão sintetizados no lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.